
ANSEIOS
Era uma tarde de domingo. O céu estava nublado, e uma brisa gelada entrava pela fresta da janela, que estava meio aberta. A cortina quebrava um pouco a brisa e, no balanço solto do seu tecido leve, Eduarda, deitada na cama, observava o movimento, mas seus pensamentos estavam naufragados em um momento que ela tanto desejou e nunca aconteceu.
Ela fechou os olhos, e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Sua pele alva e avermelhada, pela ação da brisa gelada; os cabelos longos e lisos esparramados sobre as almofadas; os lábios, de um vermelho-vivo — todo o seu corpo gritava, silenciosamente, pelo calor de um amor que ela não acreditava poder vivenciá-lo. Levou as mãos sobre o rosto e chorou compulsivamente.
Após horas de angústia, Eduarda levantou-se e foi até o espelho, penteou os cabelos, esboçou um sorriso discreto e, como se estivesse diante do grande amor de sua vida, declamou:
Queria poder te tocar, sentir teu corpo, teu calor.
Acariciar seus cabelos e desvendar seus pensamentos.
Queria poder falar sem medo, sem tropeços, te abraçar…
Sentia-te a cada momento, e meu sorriso denunciava sua presença em mim.
Ver-te e não poder estar com você era dolorido, mas confortava meu anseio por você.
Sua voz, às vezes triste, outras alegre, fazia cócegas em meus ouvidos e aguçava minha vontade de lhe ter.
No silêncio dos meus pensamentos, imaginava momentos…
E, num suspiro apaixonado, deixei-me levar pelos meus anseios.
Tentei esconder-me, desviar-me de você, mas, quando nossos olhos se cruzaram, eu me perdi…
Queria ter fechado a porta que me trazia você, mas, quanto mais tentava me afastar, mais me envolvia.
Sofri silenciosamente e sonhava com um beijo que devorasse meu corpo, me fizesse flutuar, despisse meus anseios e desvendasse meus desejos.
Sonhei com este beijo — que ele fosse lento, suave e, ao mesmo tempo, cheio de paixão e prazer.
Mas você partiu, sem nunca nossos lábios terem se tocado…
Ela ficou em silêncio por alguns momentos, olhando fixamente para o espelho, como se pudesse ver, através dele, o grande amor de sua vida. Com um gesto, enviou um beijo; levantou-se. As lágrimas não paravam de escorrer — era como se quisessem lavar sua alma, expulsar sua dor. Fechou a janela.
Uma voz, um pouco distante, chamava por ela. Era sua mãe, anunciando que o almoço estava pronto, e o aroma abriu seu apetite, renovou suas energias. Aquele novo momento a acordou para a vida. Ela foi almoçar com o coração ferido, mas com o desejo de superar sua dor.
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